O automóvel sempre esteve presente na vida do brasileiro. Pelo menos desde que as primeiras montadoras chegaram ao país, no século 20. Antes disso, o primeiro carro motorizado chegou ao Brasil em 1891, no porto de Santos (SP). O modelo Peugeot Type 3 foi o primeiro carro a rodar no Brasil, importado pelo inventor do avião, Santos Dumont. Mais tarde, outro modelo chegou a São Paulo trazido pela família do fundador da Polícia Militar Paulista, Tobias de Aguiar, e no Rio de Janeiro, encomendado pelo jornalista José do Patrocínio. Não foram esses, porém, o primeiro carro emplacado no país. A placa número 1 foi do conde Francisco Matarazzo em 1903.
A história da indústria automotiva brasileira conta muito sobre a evolução tecnológica, econômica e social dos brasileiros. Pensando nisso, destacamos pontos marcantes desta trajetória a seguir. Confira!
Nas primeiras décadas do século 20, São Paulo recebeu as fábricas da Ford e da General Motors, ambas baseadas na capital paulista. A primeira a se estabelecer no país foi a Ford, em 1919, ano em que iniciou a montagem do seu Modelo T, o Ford “Bigode”. Já em 1925 foi a General Motors. Nesta década surgiu também a primeira rodovia asfaltada, a Rio-Petrópolis. Entre 1920 e 1939, no estado de São Paulo, o número de carros saltou de 5 mil para 43 mil.
No fim dos anos 40, o Brasil mantinha uma frota envelhecida de carros, utilitários e caminhões americanos e europeus dos anos 30. De 1941 até o fim da segunda guerra mundial, em 1945, o número de fábricas de autopeças cresceu muito, chegando a 50. Esse cenário daria origem a uma série de fornecedores que mais tarde viriam a suprir a fabricação local de automóveis.
No entanto, até a metade do século 20 o país só contava com a montagem de carros por aqui. Não havia produção local de veículos. Isso começou a mudar no governo do presidente Getúlio Vargas. Duas iniciativas importantes foram as inaugurações da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e a Fábrica Nacional de Motores (FNM), ambas no estado do Rio de Janeiro.
No período de 1947 a 1952, o governo tomou medidas com o objetivo de restringir as importações de veículos automotores e autopeças e investiu mais no setor automotivo do que importando petróleo ou trigo. Mesmo assim, diante do câmbio favorável, os europeus ganharam espaço no mercado nacional. Se antes as ruas eram cheias de carros americanos, em 1950, passou a ser comum andar em carros ingleses.
No governo de Juscelino Kubitschek, em 1956, foi criado Grupo Executivo da Indústria Automobilística (GEIA), pelo decreto nº 39.412, sob o comando do almirante Lúcio Meira, com o objetivo de viabilizar as iniciativas de produção de automóveis nacionais. Na época, a frota brasileira era de 800 mil veículos e existia uma enorme demanda por automóveis e caminhões. As metas de nacionalização da indústria automobilística eram ambiciosas.
A fabricação local era um dos alicerces do governo JK. A promessa do progresso de 50 anos em cinco tinha a indústria e o transporte como dois pilares de sustentação. O foco era alavancar a indústria nacional, com a criação de um parque industrial formado por fábricas, uma rede de fornecedores de autopeças e serviços periféricos de infraestrutura.
Assim, o primeiro carro 100% nacional surgiu em 1956 pela Romi, indústria de tornos e equipamentos agrícolas. A Romi-Isetta ficou conhecida por ter um motor semelhante ao de uma motocicleta, rodas pequenas e uma porta frontal. No mesmo ano, a Fábrica Nacional de Motores e a Vemag lançaram carros nacionais, mas cópias licenciadas de modelos europeus e norte-americanos.
Com a proibição de 1953 de importar carros inteiros, a Volkswagen, a Mercedes-Benz e a Willys-Overland se tornaram fábricas nacionais. O GEIA previa que, até 1960, 90% dos caminhões e utilitários vendidos no Brasil deveriam ser de componentes nacionais. Esses objetivos foram atingidos e ultrapassados com o consequente fortalecimento da indústria automobilística brasileira.
Assim, os grandes fabricantes começaram a produzir veículos modernos e mais compatíveis com o uso demandado pelos brasileiros. A indústria automobilística passou a se concentrar em São Bernardo do Campo, São Caetano e Santo André – o ABC paulista. Já na década de 70 sugiram novas montadoras, estabelecendo-se em outras regiões do país, com destaque para a Fiat Automóveis S.A, em Minas Gerais; a Agrale no Rio Grande do Sul e a Volvo no Paraná.
Nos anos 90, a importação de veículos voltou a ser estimulada, abrindo o mercado brasileiro. Atualmente, o Brasil possui 20 empresas competindo em um lucrativo mercado, com 65 fábricas em 11 estados, que somam a capacidade instalada de 4,5 milhões de veículos por ano e cerca de 5.500 concessionárias. O Brasil exporta cerca de 22% de sua produção e a indústria emprega 126 mil pessoas.
Depois de um período de recessão, a retomada da economia brasileira deve ajudar o setor automotivo a voltar a crescer. O setor fechou o ano de 2018 com crescimento de 16% e, para este ano, a expectativa de muitas montadoras é de que ocorra um crescimento de até 12%.
Superar um período de recessão não é tarefa fácil para qualquer setor da economia, como a indústria automotiva. No entanto, alguns especialistas acreditam em um cenário mais animador. O governo também deve melhorar os incentivos ao setor. Um dos sinais disso é o Rota 2030, programa governamental que define as regras para a produção de veículos no Brasil nos próximos 15 anos.
Divididos em três períodos de cinco anos cada, o programa prevê o quanto os fabricantes precisarão investir em pesquisa e desenvolvimento no Brasil. O objetivo é que, até 2022, as empresas usem 1,22% de seu faturamento e, em contrapartida, poderão abater de 10,2% a 12% do valor em imposto de renda.
O Rota 2030 também irá exigir maior eficiência energética, segurança veicular, além de estimular a criação de soluções de mobilidade, direção autônoma e capacitação profissional. Essas são tendências que podem trazer um crescimento expressivo ao mercado.
Gostou das informações? Então leia também nosso post sobre os desafios da indústria automotiva brasileira.